quinta-feira, 16 de abril de 2020

Hoje não tem poema, apenas vazio!

Eu sinto dor.
Me falta vontade, brilho e paz.
Eu sentia que era alguém que tinha algo importante para fazer no meu futuro .
Hoje não vejo mais futuro.
Tenho apenas uma visão embaçada do que eu era, não sei o que sou e o meu futuro é turvo.
Tento me alegrar com frases de motivação ou ainda elogios dos meus mais próximos.
Tento confiar em algo que inventei sobre mim, sobre aquilo que pensava que era.
Não é mentira quando as pessoas falam que se perderam ou não sabem o que são.
Eu sou um desses.
Não sei mais meus talentos, meus motivadores, minhas ambições. Tudo se foi.
Tenho vergonha de aparecer tão pobre e nu ante as pessoas. Sinto vergonha de não me conhecer.

O fato é que me sinto inútil, não por não saber fazer algo. Mas por que não sei o que fazer.
Eu durmo e acordo, dia após dia e é só. Um ciclo não proveitoso com dias mal-aproveitados.
Não evoluo, não aprendo ou me esforço. Não sei mais o que é força, vontade ou paixão.
Quando comecei a escrever meu intuiu era fazer um texto bom, mas nem isso está saindo.
A verdade é que não sinto mais calor e nem vejo brilho.
Minha vontade apenas é de dormir.
Passar pelo que eu acho que é um momento de sonho ou pesadelo.

Sem pulsar! É assim que me sinto.
Sem pulsar!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Dubitare

Agora estamos distantes, mas tenho saudades de quando podia contemplar um sorriso largo no seu rosto.
E das vezes que ouvia teu sorriso ecoando entre as paredes da casa.

Não posso dizer que hoje posso ouví-las.
Parece que a cada passo que damos o fazemos em direções opostas e não tenho como mensurar como isso dói. Não a distância, mas a dúvida de que o que tínhamos o que era nosso realmente existiu.
Lembro de  como parecíamos felizes e amigos e eternos e nós mesmos.
Causa-me estranheza, nostalgia e cólera não saber em que mundo vivíamos.

Como imaginar que anos de doação, amizade e cumplicidade não seriam mais que um passado distante. Pode ser que não seja passado, afinal pode ser que nunca tenha existido.

Tenho saudades também das confidências, será que eram realmente confidências?
Pode ser que eu esteja exagerando(queira Deus que sim) em pensar tudo isso, espero que não tenha essa confirmação do que o meu coração sente hoje. Peço a Deus que cada pensamento triste, cada noite sem perdão, cada sensação de abandono, cada mensagem não respondida, cada sim dito e cada sonho prometido não sejam apenas divagação minha.

Será que eu estava anestesiado com as boas sensações que você me trazia ou eu sou tão ingênuo de pensar que faço ou faria alguma diferença na sua vida?

São muitas perguntas e as certezas são poucas. No entanto as respostas aparecem a cada dia e não são agradáveis. Cada dia descubro mais as respostas e como consequência também me descubro longe de ti.

Tenho saudades da época da inocência, quando te imaginava, quando vivíamos um mundo.
Tenho saudades do nosso tempo, mesmo que não tenha sido verdade.

Não tenho medo de duvidar e não me acho uma pessoa ruim por fazê-lo, acredito que quando se tem algo deve-se cuidar, cuidar para nunca perder, para jamais quebrantar.
E sim, se hoje tenho algumas indagações elas surgem porque ainda me importo.
Surgem porque algo importa no fim das contas.

Fui vivo, pensei que vivia.
Saudades, sinceras saudades da nossa mentira.








domingo, 13 de maio de 2012

As Crianças Chatas

Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real. O filho que está de noite com dor de fome e diz para a mãe: estou com fome, mamãe. Ela responde com doçura: dorme. Ele diz: mas estou com fome. Ela insiste: durma. Ele diz: não posso, estou com fome. Ela repete exasperada: durma. Ele insiste. Ela grita com dor: durma, seu chato! Os dois ficam em silêncio no escuro, imóveis. Será que ele está dormindo? - pensa ela toda acordada. E ele está amedrontado demais para se queixar. Na noite negra os dois estão despertos. Até que, de dor e cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação. E eu não agüento a resignação Ah, como devoro com fome e prazer a revolta.

Clarice Lispector
 (19 de agosto de 1967)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Procura-se


Procura-se com urgência pessoas.
Não importa de onde, a cor, o tipo cabelo.
Não importa se são baixas ou altas, magras ou gordas.

Procura-se : Gente
Gente que ainda olha no olho, que enxerga além.
Gente que abraça forte, que sorri gostoso, que chora com verdade e que vive cada momento.

Precisa-se de amigos de verdade, de pais de verdade, até de inimigos de verdade.
Precisa-se de corridinhas até a padaria, de brincadeiras com balões.
Procura-se quem se comove, quem comove, quem se deixa comover.
Quem aperte a mão e não lave depois, quem ouça as minhas palavras e não espalhe mentiras.

Procura-se gente.
Gente amiga que não rouba momentos , nem vontades, nem sonhos.
Que fala a verdade, que gera a verdade.
Procura-se alguém de verdade.

Precisa-se de gente que não se esqueça com o tempo. Sim que não esqueça de mim, da gente.
Precisa-se de verdade nas palavras, de firmeza nas ações.
Precisa-se de exageros nos carinhos, de beijos desmedidos, de desmedidas vontades.

Procura-se palavras doces, palavras fortes, até palavras ásperas.
Procura-se doações verdadeiras, dizeres verdadeiros, histórias verdadeiras.
Não precisa ser rico, nem herói , nem poeta.
Basta ser verdadeiro.
Gente de verdade.

Procura-se beijos que não durem uma noite, elogios que não façam parte de rituais.
Procura-se celulares que retornem a ligação, encontros que não se desmarquem.
Procura-se taças de vinho para encher, lábios para beijar, braços e abraços para sentir.

Precisa-sa de rimas que não se percam com o tempo.
Textos que saiam do coração e não do facebook.
Precisa-se de silêncio, de briguinhas bobas, de pessoas de carne e osso.
Precisa-se de fotos sem fotoshop, perfis que não sejam fake.
Na verdade precisa-se de menos perfis, menos redes, menos curtir, menos twitter.

Procura-se mais sorrisos, mais palavras, mais brincadeiras, mais cheiros.
Procura-se pessoas menos fingidas, atitudes mais autênticas...
Procura-se quem saiba valorizar pequenos momentos, pequenos sacrifícios.

Precisa-se de pessoas que escrevam cartas, que ainda gostem de cartões, papel-de-carta.
Pessoas que façam seleção de músicas , que divida essas músicas, que ofereçam músicas.
Precisa-se de pessoas que lutem por aquilo que é bom, que lute por nós.
Precisa-se com urgência de sangue nas veias, de um coração que acelere, de um cérebro que avalie e mãos que segurem firme.
Precisa-se de alguém
Alguém que saiba o que é precisar de outrem.


                                                
                                                                                           Barros Constazzpo

                                                                                              (Foto: Graciela Iturbide)

terça-feira, 1 de maio de 2012

♪♫♬

Engraçado...
Sempre que  vou escrever algum texto, tenho sempre uma música de fundo instigando as palavras e fazendo brotar na página branca do site algum texto ou pensamento que estava guardado.

Muitas coisas nos fazem pensar profundamente.
A música, em especial, acredito ter um poder maior sobre nós.
Não sei se foi porque o mundo disse isso, ou simplesmente porque os tons, as frases e melodias conseguem suscitar em nós sentimentos- sejam eles quais forem.

Acredito que toda pessoa tem "AQUELA" música que o passar dos anos não apaga e que as repetições não a fazem enjoativa. Pode até ser um Calypso da vida, afinal gosto é gosto.

Não vou discutir aqui o mérito dos estilos musicais, quero antes só relembrar que se a música desperta algo bom, feliz, triste, nostálgico ou simplesmente nos desperta.
Seria ótimo que as pessoas ouvissem mais músicas. Ouvissem de verdade.
Sentir não só o ritmo, mas entender a letra, degustar os versos. Mergulhar na intensidade da voz dos sotaques. Sentir a música em sua plenitude.
Músicas conseguem nos transportar, nos embriagar, nos converter...

Muito poder não é mesmo?

Imagina só, uma pessoa a criou... Como somos ligados ao melhor do outro.

Tenho para mim que submergimos na intimidade de alguém quando nos deixamos encobrir pelas notas e tons e melodias e o todo da música.

Se existe realmente um céu certamente ele terá uma trilha sonora e espero que nela toque pelo menos uma das canções que gosto e que mais alguém sinta o que sinto.

A música me faz um poquinho melhor.

Quero ouvir todos os dias.



domingo, 8 de janeiro de 2012

Libélula

Ela tinha asas.
Asas tão grandes que poderiam abraçar o mundo.

Um dia ela olhou para o horizonte e ao longe avistou raios de luz que lhe eram agradáveis à vista.
Seus olhos reluziam na vontade de saber de onde vinha aquela luz.
E como por instinto, ela quis voar.

Seu coração pulsava, acelerado como nunca sentira antes.
Suas mãos tremiam, borboletas dançavam em seu estômago...
Seus olhos brilhavam cada vez mais, como cristais que refletiam a luz do sol.
Ela avistou ao longe liberdade, liberdade que a convidava a se lançar pura no tudo.

Ela correu, correu com desespero, com esperança  e com saudade de algo que ainda não provara.
Pobre garota.
Ao longe vinham nuvens carregadas e com elas a escuridão começava.
Ventos vindos do norte e do sul traiçoeiramente a chicoteavam.
Ela correu descalça por aquele terreno seco. 
As pedras pareciam lâminas a lhe cortar os pés.
Ela não se incomodava ou desistia, pois à sua frente ainda podia avistar seus raios luminosos.
Ela sorria, chorava de alegria, dor e vontade...

Na sua frente abriu-se um abismo...
Ela correu mais, a fim de pular sobre o abismo.
Ela pulou, abriu seus braços e respirou o mais profundo possível. Ela acreditou!

Pobre garota, seu voo foi desfeito.
Ela caiu, caiu como um pássaro abatido
Pobre garota, suas asas não tinham força contra a tempestade.
Ela caia rápido, cada vez mais ao fundo sem luz...
Seu coração batia mais rápido, seus braços eram gélidos e trêmulos.
Suas pernas dançavam sem chão, cada parte do seu corpo sentia o fim eminente.

Mas ela pensou além, pensou no seu raio de sol e com forças que não eram suas ergueu-se.
Bateu suas asas e voou.
Antes a rapidez e violência da queda, agora a beleza e a magnitude do seu voo.
Ela saiu do abismo e  abriu suas asas para o infinito.
Voou por cima da tempestade, por entre os ventos, além do terreno seco e estéril.
Agora não via só mais raios luminosos, ela voo tão alto que podia avistar o Sol.
Sim, seu encontro agora era com o Sol e não mais com simples raios que dele partiam.

Ela voou, com o mesmo amor, com a mesma vontade, com as mesmas lágrimas só que tinha uma diferença.
Os raios não eram mais suficiente, porque ela alcançara a imensidão dos céu e conhecia a ternura do sol e ele era seu objetivo.
Ela só queria voar!

                                                                              (Barros Constazzpo)

                                                             

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Passagem

O que esperar de um ano que começa?

As pessoas esperam demais das outras pessoas. 
E não só das outras pessoas, esperam demais de um novo ano, de um mês de férias, de uma semana de trabalho, de um dia, mas principalmente dos 10 segundos finais do 31 de dezembro.
Elas tentam, nessa contagem, deixar para trás toda a carga que veem trazendo há anos nas costas.
Em dez segundos elas prometem, idealizam, choram, rezam. Relembram e tentam esquecer todas as ações, faltas e decepções.
Seria lindo se fosse assim, mas não é...

Você não tem como mudar um ano em dez segundos, quanto mais uma vida.
As pessoas esquecem que não devemos esperar de outras pessoas ou de novos anos.
Devemos antes de tudo esperar de nós mesmos, exigir o sucesso de um ano diferente de nós e não de um amontoado de dias.

Os dias existem para todos, as horas são comuns o que faz a diferença é como escolhemos vivê-las e passá-los.

Não adianta jogar caroço de uvas para trás ou oferecer sidra para Iemanjá.
Não é justo culpar a nota de um dólar na sua carteira ou culpar a Deus, Buda, Jesus, Maomé ou o Diabo por suas infelicidades.

Estamos em um mundo em que a intereção acontece com o outro ao nosso lado e o que justifica nossa existência é simplesmente o fato de não ser justificável. Ela é única, inexplicável e gratuita.

Esperamos demais, aí mora o problema.

As pessoas esquecem que somos nós que fazemos o nosso dia. 
Que tudo que acontece conosco faz parte de estar com alguém, que o que nos afeta antes saiu de nós.
As pessoas esquecem que a festa foi criada  por nós, os ritos, as expressões, os sentidos,as simpatias, os desejos.
As pessoas esquecem que somos tão iguais e tão diferentes dos outros conforme a nossa necessidade e não de acordo com nosso íntimo. 
Porque no ítimo buscamos a mesma coisa, desejamos os mesmos bens e esperamos ser tratados da melhor forma possivel.

A passagem é ritual nós somos de verdade. 
A força não está na contagem, está antes impregnada em cada ação que fazemos, em cada passo que damos, na direção que optamos. 
Podemos  gostar diferente basta querer. 
Enquanto as pessoas procurarem justificativas para não gostarem, permanecerão cegas quando aparecer alguem que valha a pena estar perto. 
Podemos atrair para perto de nós tudo aquilo que é bom e permancer com esse algo bom do nosso lado.
As coisas se vão. É o ciclo da vida, assim como o dia passa e o ano se renova.
Pior do que ir embora é não fazer nenhum esforço para que o outro fique.

O que esperar de um ano que começa? 

Que não o estraguemos igual o que se passou.